Por que conservadores devem se preocupar com o aquecimento global

Por Ricardo Mioto

O conservadorismo é uma filosofia da cautela. O revolucionário é o sujeito que acha que, com boas ideias e boa vontade, pode transformar o mundo. O conservador é o cético que responde que isso vai dar obviamente errado, que vai sair do controle, que o poder vai corromper, que vai morrer gente, que vamos com calma para não destruir o que já temos.

Destruir o que já temos.

Para o revolucionário, o que já temos não vale muita coisa. A civilização ocidental é desprezível, opressora –o progressista é aquele que vê “cultura do estupro” entre nós, mas olha para comunidades islâmicas e enxerga apenas multiculturalismo.

O conservador acha que temos muito a perder. Que a barbárie, a arbitrariedade e a lei do mais forte são o padrão na história da humanidade, e que devemos a todo custo preservar as instituições (como a propriedade, a lei, nossa cultura) que fazem com que tenhamos alguma segurança nestes nossos tempos, como discute muito bem Thomas Sowell em “Conflito de Visões” (É Realizações).

É por isso coisas que os conservadores deveriam se importar com o aquecimento global.

Mudar o clima global e “ver no que vai dar” não é uma postura de cautela, não é uma decisão preocupada com a manutenção do que já temos. Pelo contrário, é uma atitude “porra louca”, “pau na máquina”, irresponsável, típica do outro lado do espectro político.

A ciência do aquecimento global é muito simples –um ótimo texto sobre o assunto é o do sempre interessante Reinaldo José Lopes. Não precisa ser Einstein para entender o efeito estufa, e o sujeito tem de ser muito pirado para questionar o fato de que estamos muito rapidamente aumentando a concentração de CO2 na atmosfera.

Para piorar, o clima é o que os pesquisadores chamam de sistema complexo. Isso significa que ele se mantém em um equilíbrio de forças muito sutil, muito delicado, e deliberadamente mexer nesse negócio pode levar a efeitos cujas consequências são imprevisíveis e potencialmente catastróficas –como uma revolução política.

Uma voz conservadora seria aquela dizendo: “Se acharmos que podemos mexer impunemente em algo que até agora funcionou tão bem, vamos acabar estragando”.

Seria, mas não é. O físico americano Carl Sagan criticou isso já há muitos anos em “Bilhões e Bilhões”, perguntando: “Afinal, o que os conservadores estão conservando?”.

A questão, a meu ver, é que o aquecimento global tem, especialmente nos Estados Unidos, um problema de relações públicas com os eleitores, um pouco na linha apontada pela historiadora da ciência de Harvard Naomi Oreskes no livro e no documentário “Merchants of Doubt” –ainda que ela pareça muito mais preocupada em atacar o lobby alheio do que em fazer autocrítica.

A mudança climática acabou tendo sua imagem associada à esquerda –muitos dos envolvidos com o assunto são os chamados “melancia”, verdinhos por fora e vermelhos por dentro. Aliás, as questões ambientais tendem a atrair ativistas, e poucas coisas irritam mais um conservador do que um ativista. O ativista grita, quer sua bandeira implementada a qualquer custo, se amarra na árvore.

Os ambientalistas, contaminados por suas ideologias políticas, acabaram fazendo com que uma questão que deveria ser majoritariamente sobre substituição de tecnologia (carvão por vento, petróleo por biocombustíveis, carros mais eficientes) virasse um debate sobre estilo de vida. Consumir é feio, olha aqui a ciência provando que o o capitalismo e sua profusão de produtos são moralmente errados, a gente sempre avisou.

Por que os céticos do aquecimento global estão ganhando a batalha nos Estados Unidos? Porque, no campo oposto, os ativistas fizeram todo o possível para ganhar a antipatia do eleitor não esquerdista. Mais impostos. Menos carrões confortáveis em garagens de casas no subúrbio. Mais bicicletinha. Era óbvio que ia dar errado. O fato de as discussões internacionais sobre o aquecimento global passarem por tediosas e inúteis conferências do clima lideradas pela ONU, organização tão impregnada de progressismo, também não ajuda. Nunca se trata, também, da bomba populacional que são muitos países em desenvolvimento, que devem ter um forte aumento das suas emissões nas próximas décadas.

Uma boa ideia seria criar tributos sobre o carbono apenas na medida em que cortássemos impostos sobre a renda. O Estado fica do mesmo tamanho, para alívio de quem tem suspeitas contra o seu poder. Boas políticas tributárias são aquelas que incidem sobre aquilo que não queremos –aquecimento global– e aliviam o que queremos –renda. Mas é claro que Al Gore, o pessoal do Greenpeace ou todo o lobby verde na imprensa jamais sugeririam uma coisa dessas. Sua bandeira está, afinal, longe de ser meramente ambiental.

Deu no que deu.


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