Leio a coluna deste sábado na Folha de André Singer, ex-porta-voz de Lula, ao mesmo tempo em que leio “O Mapa e o Território” (Companhia das Letras), do ex-presidente do Fed, o Banco Central americano, Alan Greenspan.
O contraste é grande.
Singer é do tipo que acredita que a solução para crises econômicas se dá por meio de apertos de mão. Acha que o caminho para resolvermos a má situação atual do país passa por um “um pacto”, que uniria as “forças interessadas em acordo mínimo de estabilidade e fim da recessão”.
É até fofinho. A macroeconomia é substituída pelos métodos de uma professora pré-escolar. Vamos todos nos juntar em uma sala, conversar e resolver isso. Não faz assim com o amiguinho.
A jornalista Miriam Leitão conta maravilhosamente em “A Saga Brasileira” (Record) como a mesma mentalidade se refletiu no combate à inflação no fim do século passado no Brasil. O contraste se dava entre economistas que orbitavam a PUC-Rio, que acabaram criando o Plano Real, e os heterodoxos da Unicamp.
O pessoal do Rio acreditava que era necessário atacar os incentivos para a inflação, como a tendência do governo a gastar mais do que arrecada, pressionando os preços, ou a inércia inflacionária –ou seja, retroalimentação da inflação em função da forte indexação de preços e salários. Em 1994, houve ainda aumento da taxa de juros, levando a certo esfriamento temporário da economia.
Já a turma de Campinas achava que a solução se daria por um “acordo” entre os empresários, o governo e os trabalhadores. Eles combinariam que daquele momento em diante os preços se estabilizariam, como se tudo fosse só uma questão de boa vontade. Não é uma visão de mundo bonitinha?
Aliás, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo até hoje tem essas ideias –deu uma entrevista recente dizendo que a solução para a crise é justamente um “pacto” entre as diferentes alas da sociedade, “para o qual todos dessem sua contribuição”.
É como o sujeito chegar em casa, pegar a mulher em adultério e resolver juntar todo mundo na sala –ele próprio, a mulher constrangida e o bonitão, provavelmente vestindo um roupão do corno– para buscar uma “solução de consenso”.
É o que diz Thomas Sowell em “Conflito de Visões” (É Realizações): o mundo se divide entre quem acredita que a solução para os problemas sociais ou econômicos é complexa e com frequência exige escolhas dolorosas, até trágicas, e a turma do pensamento mágico, para quem basta querer e dar as mãos.
O primeiro pensamento também carrega riscos, claro. Ele pode ser um convite à inércia, ao status quo. Já que as coisas são difíceis, melhor nem mexer. Mas certamente o voluntarismo não é opção melhor, especialmente quando ignora o papel dos incentivos, positivos e negativos, na economia.
No seu livro, Greenspan cita como a incerteza e a insegurança jurídica são um imenso incentivo para a fuga dos investidores. “Um clima negócios nebuloso por conta, por exemplo, de incertezas em relação ao regime fiscal futuro, pesa sobre o nível de investimentos das empresas” –é até meio óbvio.
Pense em toda a imprevisibilidade criada pelo governo Dilma nos últimos anos, do setor elétrico às caóticas desonerações. No beco sem saída fiscal em que o governo se meteu. No intervencionismo em busca de ditar taxas de retorno do setor privado, no uso da Petrobras para administrar (sem sucesso) a inflação. Na falta de coragem para lidar com bombas-relógio como a Previdência.
Agora chame André Singer para convencer o país de que, se todos fecharmos os olhos e acreditarmos juntos, o amanhã será melhor.